O uso da criatividade e da inovação na Comunicação

Por: Sergio Bialski

Ao longo dos mais de vinte anos de minha carreira como Gestor de Comunicação em grandes empresas, e dos dez anos como professor universitário, pude perceber um traço comum, tanto entre meus colegas de trabalho como entre meus alunos, que é a valorização da criatividade e da inovação como elementos essenciais para o sucesso.

Contudo, ao mesmo tempo que colegas e alunos reconhecem essa verdade, para ambos prevalece a sensação de que criatividade e inovação são algo distante e inatingível, uma espécie de dom concedido a alguns poucos “escolhidos”, o que, a meu ver, demonstra desconhecimento sobre o tema.

Vamos começar essa discussão com uma pergunta fundamental: você se acha uma pessoa criativa e inovadora? Quais as primeiras imagens que lhe vêm à mente quando alguém pronuncia as palavras criatividade e inovação?

Para início de conversa, tenho convicção de que você é criativo(a) e inovador(a). E a minha convicção se deve à observação de um fato elementar: o espírito criativo e a possibilidade de inovar estão à disposição de quem ousa transformar sonhos em realidade, explorando novas maneiras de fazer as coisas e inventando novas técnicas para resolver problemas.

Essa flexibilidade mental, a rigor, deve ser praticada diariamente pelo profissional de comunicação, afinal, sabemos que se você quer atingir resultados diferentes, tem de agir de maneira diferente.

Agir diferente é estar aberto ao desenvolvimento de hábitos e atitudes criativas, já que criatividade não é magia resultante de aleatórios lampejos de inspiração, mas de um processo que implica questionar, investigar e superar os desafios impostos pela vida, buscando soluções para vencer adversidades. Vale aqui o velho jargão: 99% do processo criativo é transpiração e 1% inspiração.

Certa vez, num dos cursos sobre criatividade que fiz, escutei uma frase que, para mim, traduz a essência do conceito: “A criatividade é um processo muito mais heurístico do que algorítmico”.

Algoritmo corresponde, em matemática, a uma regra que, sempre que aplicada a premissas conhecidas, produz resultados esperados e verificáveis. Já a heurística, do grego heuriskein (descobrir), é uma verdade que não é matematicamente comprovável.

Não é à toa que a Universidade de Harvard conquistou seu prestígio, no ensino da administração, ao implementar a famosa metodologia ativa da “discussão de casos”, que fundamentalmente consiste em reconhecer que não há fórmulas e regras que produzam resultados esperados no mundo dos negócios. Na realidade, a única regra que vale é o reconhecimento de que para resolver de forma criativa os problemas ligados ao mundo dos negócios, especialmente na área de comunicação, a única saída é usar a experiência real e todo o repertório adquirido a partir de nossa vivência.

Durante boa parte de minha vida corporativa, sempre que chamado a participar de reuniões de brainstorming, devo confessar que saía com um riso interno, muitas vezes incontido, ao presenciar cenas de executivos pedindo sugestões sobre projetos e, em seguida, vendo-os dizer às suas equipes: “Vamos reiniciar, porque a discussão está fugindo do foco”. E eu me perguntava: “Como assim, fugindo do foco?”. Será que esses gestores não sabem que brainstorming é um processo que deve evitar críticas e julgamentos no momento de geração das ideias, dando possibilidade à verbalização de todas que surgirem? Será que nunca leram a respeito do que Harvard e outras prestigiosas universidades vêm ensinando ao mundo nas últimas décadas?

A essa altura, você pode estar se perguntando: mas o que posso fazer, no meu dia a dia como profissional de comunicação, para ser mais criativo e inovador, se nem mesmo professores e gestores, muitas vezes, praticam esses conceitos? E mais: como obter sucesso e vencer com a aplicação desses conceitos, no mundo altamente competitivo em que vivemos?

Vamos por partes:

Em primeiro lugar, devemos levar em conta que, na atualidade, para que algo seja considerado criativo, o julgamento dos outros é essencial. Você pode ser criativo, mas sempre é criativo porque há alguém atestando isso. Busque, então, nessa etapa, verdadeiros mentores entre seus amigos, familiares, colegas de trabalho, etc. Lembre-se de que, na mitologia grega, Odisseu confia seu filho Telêmaco aos cuidados de um conselheiro, cujo nome é justamente Mentor, um sábio que guia, ensina ou aconselha com entusiasmo, persistência, originalidade, e, acima de tudo, paixão. Portanto, você deve estar aberto a críticas construtivas de pessoas que, notadamente, agregam valor à sua vida, e terá que aprender um conceito de física que, tenho certeza, vem praticando já há muito tempo: a resiliência.

Resiliência é a capacidade de um material suportar tensão sem se deformar de forma permanente. Aplicando à sua vida pessoal, é a capacidade que você tem de retornar a um nível de estabilidade psicológica e biológica para superar críticas, mudanças e dificuldades.

Um outro ponto relevante a se levar em conta é que criatividade é um processo e faz parte de uma prática diária. Pensar em coisas novas é ser criativo e, tenho convicção, todos nós somos. Contudo, o desafio proposto é inovar, ou seja, fazer coisas novas, implementando-as com a finalidade de gerar valor. Para que isso seja possível, passa a ser essencial a proficiência num determinado campo do conhecimento. A pergunta básica é: em que segmento, dentro do amplo espectro da comunicação, você realmente é bom e se sente confortável para desenvolver todo o seu potencial criativo?

Foi-se o tempo em que a Humanidade teve o privilégio de se deparar com figuras como Leonardo da Vinci, um gênio cujo talento insaciável o fez destacar-se como cientista, pintor, escultor, arquiteto, matemático, engenheiro, anatomista, botânico, poeta, músico e inventor. Hoje em dia, mal terminamos a graduação, a exigência do mercado para que se faça uma pós, um MBA ou algo que o valha comprova o peso que se dá à especialização.

Finalmente, o elemento que nunca pode faltar no caldo criativo é a paixão, conhecida na Psicologia como motivação intrínseca, que é o ato de fazer algo por puro prazer, e não em troca de recompensas. Usando uma metáfora, este tipo de motivação é como uma porta que só se abre pelo lado de dentro.

Não costumo dar receitas de bolo, pois cada um, baseado em sua história de vida e experiência, tem muita propriedade para saber o que é melhor para si e as batalhas que devem ser travadas para atingir suas metas. Mas, se como mentor me pedissem para lembrar as atitudes típicas das pessoas criativas, inovadoras e vencedoras na área de comunicação, eu diria que:

1) elas têm confiança no seu potencial e não têm receio de implementar ideias de valor;

2) adotam uma postura de ceticismo saudável, ou seja, investigam o porquê das coisas;

3) praticam a curiosidade infantil, para a qual não existem realidades prontas;

4) são perseverantes;

5) colocam-se no papel de eternas aprendizes;

6) mostram atitude positiva para enfrentar desafios e não fogem das batalhas;

7) estão sempre abertas à mudança, prontas para enfrentar o novo.

Pratique estas atitudes, confie em si e jamais desista de lutar para alcançar seus objetivos de vida!