Henry Sobel: um comunicador sem fronteiras

Por: Sergio Bialski

No último dia 22 de novembro, nos Estados Unidos, faleceu o ilustre rabino Henry Sobel, aos 75 anos. Nascido em 1944 na cidade de Lisboa, em Portugal, Henry Sobel foi uma notória liderança e um comunicador nato e corajoso, que não se intimidou durante o regime militar que governou o Brasil por duas décadas. Sempre ao lado da verdade dos fatos, recusou-se, em outubro de 1975, a sepultar o jornalista Vladimir Herzog como suicida no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. Além disso, uma semana após a morte de Herzog, Sobel, D. Paulo Evaristo Arns (à época arcebispo de São Paulo), o reverendo James Wright e D. Hélder Câmara participaram de um ato ecumênico para mais de 8 mil pessoas, lançando as sementes do processo de redemocratização do País.

A atitude do rabino Sobel se tornou um símbolo de resistência à censura e à violência perpetrada contra aqueles que se levantaram diante dos abusos de poder e violações de direitos humanos, bem como um símbolo em prol da liberdade de expressão.

Tive o privilégio de conviver, em minha adolescência, com este ser humano singular, carinhosamente alcunhado de Sobel, e me encantar com sua oratória eloquente, seu carisma incomparável e sua voz carregada de sotaque – marca registrada – e, ao mesmo tempo, suave, pausada e calma, que convidavam a um bate-papo sobre questões cotidianas ou a reflexões sobre temas de natureza existencial.

O rabino-comunicador soube, com maestria, praticar a nobre arte de escutar, ou seja, ouvir atentamente quem dele necessitava, pois sempre ensinava que escutar nos faz ver e sentir o outro, e é isso que dá sentido às nossas vidas. Essa virtude, aliada ao seu espírito humanista e eclético, deu-lhe credibilidade para que se tornasse referência da comunidade judaica brasileira, abrindo portas para o diálogo inter-religioso. Com ele, aprendi valiosas lições, que devem ser praticadas e disseminadas por todo comunicador:

– Respeito: significa evitar desentendimentos, promover a tolerância e os traços que nos unem, apesar das diferenças, e gerar um clima de absoluta harmonia.

– Liderança: ser exemplo e inspirar os outros. Palavras são importantes, mas gestos são determinantes. É o que os americanos chamam de walk the talk, ou seja, fazer o que se fala.

– União: estimular o trabalho em equipe e construir alianças nos torna mais fortes e capazes de atingir metas em comum em qualquer área.

– Paixão: é proteger, cuidar, ter afeição, ser solidário, importar-se com o outro.

– Humildade: seja para reconhecer melhorias em nós mesmos ou para saber escutar opiniões.

– Empatia: sabermos, acima de tudo, colocar-nos no lugar do outro, sentindo suas alegrias e dores. Praticar essas virtudes tão enfatizadas pelo rabino é, antes de tudo, se autoencantar e encantar nossos diferentes interlocutores, para que possamos deixar nosso próprio legado.E, por falar em legado, a citação que segue é a forma como o próprio Henry Sobel, cidadão do mundo e comunicador sem fronteiras, gostaria de ser lembrado:

“Imagine que você está à beira-mar e vê um navio partindo. Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando, cada vez mais longe, até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte. Lá o mar e o céu se encontram. E você diz: `Pronto, ele se foi`. Foi aonde? Foi a um lugar que a sua visão não alcança, só isso. Ele continua tão grande, tão bonito e tão imponente como era quando estava perto de você. A dimensão diminuída está em você, não nele. E naquele momento em que você está dizendo “ele se foi&” há outros olhos vendo-o aproximar-se e outras vozes exclamando com alegria: “Ele está chegando”.