O ensino da Comunicação e o papel do educador

Por: Sergio Bialski

Em 15 de outubro comemorou-se o Dia do Professor.

Há mais de uma década leciono em universidades e percebo que uma série de questões básicas, ainda não resolvidas, movimentam os debates e unem as áreas de educação e comunicação, o que demanda reflexão, discussão e, acima de tudo, ação em busca de soluções para os atuais impasses.

Em pleno século XXI, se há uma coisa que não se pode mais admitir é um ensino da comunicação baseado somente na transmissão da informação, já que isso, nem de longe, atende aos anseios das novas gerações, que cobram novas formas para potencializar competências e desenvolver habilidades. Não é à toa que, hoje em dia, tanto se fala das chamadas”;metodologias ativas”, ou seja, de um conjunto de ferramentas que colocam os alunos como protagonistas de sua própria aprendizagem, de modo que o educador assuma essencialmente o papel de orientador. Na área de comunicação não é diferente, afinal, a necessidade de inovar deve ser compromisso diário.

Uma das perguntas que sempre me faço como educador e comunicador é: de que modo é possível manter o nível de atenção de um aluno hiperestimulado por mensagens de WhatsApp, vídeos do YouTube e likes intermináveis do Facebook e Instagram, fazendo-o perceber que determinada mensagem é relevante?

Não se trata, sem dúvida, de uma pergunta fácil de responder, mas aprendi, pela minha vivência profissional e acadêmica, que o primeiro passo consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo-o e respeitando-o, livre de preconceitos. É o que se chama de empatia. E, para que exista empatia, é preciso transmitir a mensagem usando exemplos, linguagem e atividades que se encaixem na realidade do ouvinte, aproximando o que está sendo transmitido do que se deseja escutar, ou, como costumo dizer, é dar sabor ao saber (por isso a palavra saber vem do latim sapore, que significa sabor).

Comunicação eficiente e eficaz é aquela, portanto, que acima de tudo motiva o ouvinte a querer parar para nos escutar. Certa vez um colega psicólogo me disse que "motivação é uma porta que só se abre pelo lado de dentro”;. Acredito fortemente no que ele me disse, pois uma mensagem transmitida pelo comunicador-educador pode inspirar ou pirar. Comunicador-educador desmotivado cria um ambiente que pira, pois por não ser atraente, ninguém gosta de estar nele para ouvi-lo. Quem gosta de ir a um show, a uma loja ou a um restaurante e não se sentir estimulado?

Tenho minha própria fórmula para (re)conquistar a confiança de educandos da área de comunicação, baseada na transmissão de alguns valores essenciais:

– Respeito: significa, desde o primeiro momento em que tenho contato com uma nova turma, não agir por imposição, evitar desentendimentos, promover a tolerância e os traços que nos unem, apesar das diferenças, e gerar um clima de absoluta harmonia. Pense na importância disso para qualquer função exercida na área de comunicação.

– Entusiasmo: basta lembrar a origem da palavra, que vem do grego enthousiasmos, que significa “ter um deus interior” ou “estar possuído por Deus”;. Costumo dizer e também mostrar, em sala de aula, que sempre entro com o sopro divino, como se aquela fosse a última aula a ser dada em minha vida. Tenho convicção de que essa postura é contagiante e é o que desperta e mantém a atenção em sala de aula. Imagine um comunicador que se porte desse modo, irradiando e contagiando seus públicos.

– Paixão: é proteger, cuidar, ter afeição, ser solidário, importar-se com o outro. Uma demonstração inequívoca desse sentimento pode fazer milagres para gerar mudança de atitudes em sala de aula. Sempre que falo desse valor me lembro do educador e médico Janusz Korczak, que literalmente deu sua vida, movido pela paixão em prol das crianças de seu orfanato. Coloque-se no lugar de Korczak como um comunicador apaixonado pelo seu trabalho e preocupado com seus públicos.

– Simplicidade: tornar as práticas pedagógicas objetivas, descomplicadas, evitando desperdício de tempo. Isso passa credibilidade e conquista a confiança. Imagine, nas corporações, o tempo que poderia ser economizado com uma comunicação simples, objetiva e direta.

– Humildade: seja para reconhecer melhorias nas práticas de ensino ou para saber ouvir opiniões. Lembre do mestre Rubem Alves, que nos ensina a importância da tarefa de escutar e não somente de falar.

– Cooperação: estimular o trabalho em equipe e construir alianças nos torna mais fortes e capazes de atingir metas em comum em qualquer área, especialmente em comunicação.

– Liderança: ser exemplo e inspirar para a vida é missão de todo educador e comunicador. Muitos sabem o que fazem e como fazem suas atividades  rotineiras, mas poucos sabem o porquê. Palavras são importantes, mas gestos são determinantes. É o que os americanos chamam de walk the talk, ou seja, fazer o que se fala. Como bom comunicador, nunca se esqueça dessa regra de ouro.

Concluindo, parece oportuno dizer que, no médio e longo prazo, prevalecerão os comunicadores-educadores que respondam às exigências do mundo competitivo em que vivemos, a partir da adoção de ferramentas inovadoras motivadoras e inspiradoras de comunicação, que, acima de tudo, busquem uma conexão relevante, genuína e original com seus públicos ouvintes.